segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Reflexo Noturno




Meus heróis morreram de overdose; morreram de AIDS; de câncer e de outras coisas que a vida inventou para vencer os duelos contra a mente eloquente do homem. Mas mal sabe ela que grandes mentes não morrem com a morte, pelo contrario, são eternizadas. Acabam virando mitos. Pois a mente humana vaga pelos vales mais deserto em busca de algo para se prender, como frases, canções, melodias; afim de encontrar-se ou descobrir seu caminho em alguma delas.

- Bem aventurados sejam aqueles que amam essa desordem!

Desordem doce e amarga, como um chocolate feito para uma pessoa com diabetes; o doce amargo do chocolate é a doce amargura dos sonhos interrompidos. O bonde passa cheio de pernas, sim, mas também passa cheio de sonhos, de desejos, de pensamentos que ora ou outra serão interrompidos. Seja pela decepção, seja pela desistência. Quem dera eu ter sete faces para poder conversar com todas elas.

- Óh, Deus, perdoe esse pobre coitado que de joelhos rezou um bocado pedindo para chuva cair, cair sem parar!

As mentes rezam. Rezam para si; rezam para os outros. Rezam para que caia chuva e para que pare de chover. As pernas, não. Elas não rezam, apenas seguem em frente porque acreditam apenas no chão em que pisam, deixando a cabeça fazer todos os trabalhos e subjetivos que elas não têm tempo para fazer.

- Temos todo o tempo do mundo!

Sim, mas ele também nos tem! O Tempo! O maior vilão de todos os. . .tempos! E o tempo nos inveja, por isso acelera quando estamos nos divertindo e passa devagar quando estamos à espera de algo. O tempo é sádico. Por isso inventaram a máquina fotográfica. Para vencer o tempo e para aprisiona-lo; mostrar quem é o dono de quem. Há! Dois a zero para a humanidade.

- O que vai ficar na fotografia são os laços invisíveis que havia.

Mas no fim das contas a foto só faz o nosso chocolate ficar cada vez mais amargo, pois retrata algo que não está mais ali; algo que já nos escorreu pelas mãos, assim como o próprio tempo, que voa nas asas de um avião e assombra as mentes das pessoas que passam naquele bonde que estava cheio de pernas, desejos e sonhos; aquele bonde que provavelmente já deve estar chegando ao seu destino. É hora de acordar. É hora de viver.

- Vamos viver tudo que há para viver. Vamos nos permitir.

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