Meus heróis morreram de overdose; morreram de AIDS; de
câncer e de outras coisas que a vida inventou para vencer os duelos contra a
mente eloquente do homem. Mas mal sabe ela que grandes mentes não morrem com a
morte, pelo contrario, são eternizadas. Acabam virando mitos. Pois a mente
humana vaga pelos vales mais deserto em busca de algo para se prender, como
frases, canções, melodias; afim de encontrar-se ou descobrir seu caminho em alguma delas.
- Bem aventurados sejam aqueles que amam essa desordem!
Desordem doce e amarga, como um chocolate feito para uma
pessoa com diabetes; o doce amargo do chocolate é a doce amargura dos sonhos
interrompidos. O bonde passa cheio de pernas, sim, mas também passa cheio de
sonhos, de desejos, de pensamentos que ora ou outra serão interrompidos. Seja
pela decepção, seja pela desistência. Quem dera eu ter sete faces para poder
conversar com todas elas.
- Óh, Deus, perdoe esse pobre coitado que de joelhos rezou
um bocado pedindo para chuva cair, cair sem parar!
As mentes rezam. Rezam para si; rezam para os outros. Rezam
para que caia chuva e para que pare de chover. As pernas, não. Elas não rezam, apenas
seguem em frente porque acreditam apenas no chão em que pisam, deixando a cabeça
fazer todos os trabalhos e subjetivos que elas não têm tempo para fazer.
- Temos todo o tempo do mundo!
Sim, mas ele também nos tem! O Tempo! O maior vilão de todos
os. . .tempos! E o tempo nos inveja, por isso acelera quando estamos nos
divertindo e passa devagar quando estamos à espera de algo. O tempo é sádico. Por
isso inventaram a máquina fotográfica. Para vencer o tempo e para aprisiona-lo;
mostrar quem é o dono de quem. Há! Dois a zero para a humanidade.
- O que vai ficar na fotografia são os laços invisíveis que
havia.
Mas no fim das contas a foto só faz o nosso chocolate ficar
cada vez mais amargo, pois retrata algo que não está mais ali; algo que já nos
escorreu pelas mãos, assim como o próprio tempo, que voa nas asas de um avião e
assombra as mentes das pessoas que passam naquele bonde que estava cheio de
pernas, desejos e sonhos; aquele bonde que provavelmente já deve estar chegando
ao seu destino. É hora de acordar. É hora de viver.
- Vamos viver tudo que há para viver. Vamos nos permitir.
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