♪ Se um dia eu pudesse ver
Meu
passado inteiro... ♫
De histórias mal contadas e severamente escondidas, um
nascimento e a relação de pai e filho é afetado. Escondida a sete chaves de
todos que conhecem apenas alguns deslizes fazem conhecer essa história dita nas
poucas peças de quebra-cabeça. Vivo procurando os relatos da separação de meus
pais que nunca são confessados, mas sei que enquanto eu era gerado aconteciam
os fatos. Nascido em meio ao erro, numa gestação difícil e complicada que quase
levou a morte de minha e de minha mãe. Eu como sempre apressado nas coisas,
tentei nascer de cinco meses, mas fui paciente, esperei até o oitavo mês.
E assim foi o nascimento, recheado de mentiras e
segredos, segredos que entrariam até em feitiçaria e idolatria, coisas que para
mim hoje não tem o menor sentido, para mim coisas tão banais.
♪ Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde estou
Meu destino não é de ninguém
E eu não deixo os meus passos no
chão... ♫
Condenado ao erro que não cometeu, erro que já nasceu
nele. Crescia nele, vivia longe de meu pai, longe de coisas que me poderiam
diferenciar, coisas que podiam me marcar. Lembro-me das vezes que ia dormir na
casa de minha vó paterna, odiava aquele lugar que não tinha nada para mim, nada
para brincar, nada além de obrigações fúteis, programação de televisão
programada, proibido de assistir o que queria, contam-me que quando muito
criança dormia com a mala na costas na escadaria da casa chorando querendo
voltar para minha casa. Ia para casa da minha vó como apenas o cumprimento de
protocolo chato que ao fim daquele final de semana seria ir à igreja onde não
gostava de ir, exigiam que eu fizessem coisas que não entendia e ouvissem
histórias que não usaria e não fariam sentido para mim, mas meu pai apesar
de gostar de minha presença parecia não me querer por perto, logo isso era
percebido, logo isso demonstrado, pois eu não ia dormir na casa dele, apenas
era visitado como algo esporádico.
♫ Se você não entende não vê
Se não me vê não entende ♪
Crescia nesse meio de uma disputa que não entendia,
não entendia o que tinha raiva, não entendia o que tinha ódio, achava que era
esse grande desinteresse que tive meu e do meu pai, passei várias vezes
pensando, vivia a procura do erro, mas via somente o mesmo problema, sentia
apenas triste, muito triste de viver longe, ganhando de vez em quando um
presente ou outro que pedia quando criança. Vi muitas vezes nos parques pais
brincando com o filho e eu me sentia triste ao ver isso, triste por não viver
isso, por não passar por isso, comentava apenas no nome de meu pai para minha
mãe e alguns impropérios sutis saiam da boca dela para que não entendesse. Aos
poucos o cimento endurecia em meu coração, apesar das vezes rachar a pedra.
♫ Não procure saber como estou
Se o meu jeito te surpreende ♪
Decidi por grande tempo ficar longe, não conhecia meu
pai e ele não me conhecia, não sabiam como cada um era, procurei descobrir, mas
as histórias sumiam, eram guardadas no baú que eu não tinha a chave. Vi em toda
a minha vida minha mãe e meu pai juntos somente quando meu irmão havia cometido
um erro um pouco grave e ambos sentaram com ele para conversar, em toda a minha
memória esse foi o único momento em que vi meu pai entrar em minha casa e estar
em concordância com minha mãe. Assim prosseguia minha vida, minha caminhada.
♪ Se um dia eu pudesse ver
Meu passado
inteiro
E fizesse
parar de chover
Nos
primeiros erros
Meu corpo
viraria sol
Minha mente viraria ar... ♫
De um momento repentino virei evangélico
da mesma igreja que meu pai, teria que enfrentar aquilo que eu e ele fugimos
por tanto tempo, lembro-me que quando fui confrontado e paramos para falar
frente a frente, não entendia aquele momento, não se explicava aquele momento,
mas chorava muito (Bem mais que o tempo, que nós perdemos, ficou prá trás também o que nos juntou... Ainda lembro que euestava lendo só prá saber o que você achou dos versos que eu fiz, ainda espero resposta...). O pouco tempo que convivi com meu pai,
conheci algumas características dele, vivi um pouco com ele, dormi na casa
dele, pedi conselho, mas mesmo com tudo isso parecia algo distante, gasto pelo
tempo, mas isso não era motivo de desistir, podia ser diferente a história e o
momento. Descobrindo aos poucos as histórias e situações que aconteceram contados
por outros familiares, aos poucos conheciam as coisas que tinham medo de dizer,
nunca em sua suma, mas o suficiente para começar. Com o passar do tempo, em
meus estudos descobri o que finalmente acontecia, em um trabalho escolar do
qual eu tinha que apresentar, peguei um tema chamado Síndrome da Alienação
Parental que tinha como explicação a doença que afasta os
pais dos filhos, pensava que era um problema de uma doença qualquer, não tinha
a menor noção que era algo que eu vivia, mas estudando e procurando sobre o
assunto entendi o que acontecia, era uma grande coincidência, estudava e sabia
o que vivia, podia mudar, podia sonhar... Lembro-me que estava receoso em
apresentar naquele dia, mas ao observar as pessoas pareciam não dar atenção ao
que eu falava, então prossegui sem deixar ninguém desconfiar e simplesmente
falava para pessoas sem dar atenção, sentei-me refletindo e alguns minutos
depois fui falar com uma amiga e ela me disse: você atingiu muita gente hoje.
Naquele momento parei de olhar para mim e vi ao redor, gente chorando, triste,
vendo as cenas em suas mentes, nunca imaginei aquilo. Pensei para mim que seria o marco para mudança (Come up to meet you, tell you I'm sorry,you don't know how lovely you are, I had to find you, tell you I need you, tell you I set you apart. Tell me your secrets and ask me your questions. Oh, let's go back to the start Running in circles, coming up tails, heads on a silence apart. Nobody said it was easy, It's such a shame for us to part. Nobody said itwas easy, no one ever said it would be this hard. Oh, take me back to thestart...) e assim
foi.
♪ Mas só
chove, chove
Chove, chove ♫
Mas o tempo não disse o mesmo, a frágil relação
acabou separando novamente pai e filho, nem mesmo a relação com "deus
pai" durou. Sai da igreja, sai da vida que estava a caminhar "e
eu não deixo os meus passos no chão". Desde minha saída da
igreja não encontro mais meu pai, fiquei sabendo das poucas informações que ele
também havia saído. Nunca mais o vi, não sei se esta vivo ainda, sei que
provavelmente saberia se não estivesse, mas tenho minhas dúvidas. As únicas
palavras que me recordo e fico feliz de ter ouvido foi: eu perdi você e seu
irmão, não quero que isso aconteça novamente. Fico feliz em ouvir isso, pois
sei que minha irmã (que pouco conheci) não terá a mesma história que eu. Talvez
o silêncio das minhas palavras pronunciadas não encobririam os gritos de meu
coração e da minha mente, mesmo mudo as palavras se expressariam o que sinto e
vejo, não sinto ódio, não sinto raiva, mas de vez em quando me sinto triste,
mas acostumado com a história. Se um dia eu pudesse ver meu passado inteiro...
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