terça-feira, 6 de agosto de 2013

O meu primeiro erro

♪ Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro... ♫

De histórias mal contadas e severamente escondidas, um nascimento e a relação de pai e filho é afetado. Escondida a sete chaves de todos que conhecem apenas alguns deslizes fazem conhecer essa história dita nas poucas peças de quebra-cabeça. Vivo procurando os relatos da separação de meus pais que nunca são confessados, mas sei que enquanto eu era gerado aconteciam os fatos. Nascido em meio ao erro, numa gestação difícil e complicada que quase levou a morte de minha e de minha mãe. Eu como sempre apressado nas coisas, tentei nascer de cinco meses, mas fui paciente, esperei até o oitavo mês.
E assim foi o nascimento, recheado de mentiras e segredos, segredos que entrariam até em feitiçaria e idolatria, coisas que para mim hoje não tem o menor sentido, para mim coisas tão banais.

♪ Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde estou
Meu destino não é de ninguém
E eu não deixo os meus passos no chão... ♫


Condenado ao erro que não cometeu, erro que já nasceu nele. Crescia nele, vivia longe de meu pai, longe de coisas que me poderiam diferenciar, coisas que podiam me marcar. Lembro-me das vezes que ia dormir na casa de minha vó paterna, odiava aquele lugar que não tinha nada para mim, nada para brincar, nada além de obrigações fúteis, programação de televisão programada, proibido de assistir o que queria, contam-me que quando muito criança dormia com a mala na costas na escadaria da casa chorando querendo voltar para minha casa. Ia para casa da minha vó como apenas o cumprimento de protocolo chato que ao fim daquele final de semana seria ir à igreja onde não gostava de ir, exigiam que eu fizessem coisas que não entendia e ouvissem histórias que não usaria e não fariam sentido para mim, mas meu pai apesar de gostar de minha presença parecia não me querer por perto, logo isso era percebido, logo isso demonstrado, pois eu não ia dormir na casa dele, apenas era visitado como algo esporádico.

♫ Se você não entende não vê
Se não me vê não entende ♪

Crescia nesse meio de uma disputa que não entendia, não entendia o que tinha raiva, não entendia o que tinha ódio, achava que era esse grande desinteresse que tive meu e do meu pai, passei várias vezes pensando, vivia a procura do erro, mas via somente o mesmo problema, sentia apenas triste, muito triste de viver longe, ganhando de vez em quando um presente ou outro que pedia quando criança. Vi muitas vezes nos parques pais brincando com o filho e eu me sentia triste ao ver isso, triste por não viver isso, por não passar por isso, comentava apenas no nome de meu pai para minha mãe e alguns impropérios sutis saiam da boca dela para que não entendesse. Aos poucos o cimento endurecia em meu coração, apesar das vezes rachar a pedra.

♫ Não procure saber como estou
Se o meu jeito te surpreende ♪
  
Decidi por grande tempo ficar longe, não conhecia meu pai e ele não me conhecia, não sabiam como cada um era, procurei descobrir, mas as histórias sumiam, eram guardadas no baú que eu não tinha a chave. Vi em toda a minha vida minha mãe e meu pai juntos somente quando meu irmão havia cometido um erro um pouco grave e ambos sentaram com ele para conversar, em toda a minha memória esse foi o único momento em que vi meu pai entrar em minha casa e estar em concordância com minha mãe. Assim prosseguia minha vida, minha caminhada.

♪ Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros
Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria ar... ♫

De um momento repentino virei evangélico da mesma igreja que meu pai, teria que enfrentar aquilo que eu e ele fugimos por tanto tempo, lembro-me que quando fui confrontado e paramos para falar frente a frente, não entendia aquele momento, não se explicava aquele momento, mas chorava muito (Bem mais que o tempo, que nós perdemos, ficou prá trás também o que nos juntou... Ainda lembro que euestava lendo só prá saber o que você achou dos versos que eu fiz, ainda espero resposta...). O pouco tempo que convivi com meu pai, conheci algumas características dele, vivi um pouco com ele, dormi na casa dele, pedi conselho, mas mesmo com tudo isso parecia algo distante, gasto pelo tempo, mas isso não era motivo de desistir, podia ser diferente a história e o momento. Descobrindo aos poucos as histórias e situações que aconteceram contados por outros familiares, aos poucos conheciam as coisas que tinham medo de dizer, nunca em sua suma, mas o suficiente para começar. Com o passar do tempo, em meus estudos descobri o que finalmente acontecia, em um trabalho escolar do qual eu tinha que apresentar, peguei um tema chamado Síndrome da Alienação Parental que tinha como explicação a doença que afasta os pais dos filhos, pensava que era um problema de uma doença qualquer, não tinha a menor noção que era algo que eu vivia, mas estudando e procurando sobre o assunto entendi o que acontecia, era uma grande coincidência, estudava e sabia o que vivia, podia mudar, podia sonhar... Lembro-me que estava receoso em apresentar naquele dia, mas ao observar as pessoas pareciam não dar atenção ao que eu falava, então prossegui sem deixar ninguém desconfiar e simplesmente falava para pessoas sem dar atenção, sentei-me refletindo e alguns minutos depois fui falar com uma amiga e ela me disse: você atingiu muita gente hoje. Naquele momento parei de olhar para mim e vi ao redor, gente chorando, triste, vendo as cenas em suas mentes, nunca imaginei aquilo. Pensei para mim que seria o marco para mudança (Come up to meet you, tell you I'm sorry,you don't know how lovely you are, I had to find you, tell you I need you, tell you I set you apart. Tell me your secrets and ask me your questions. Oh, let's go back to the start Running in circles, coming up tails, heads on a silence apart. Nobody said it was easy, It's such a shame for us to part. Nobody said itwas easy, no one ever said it would be this hard. Oh, take me back to thestart...) e assim foi.

♪ Mas só chove, chove
Chove, chove ♫


Mas o tempo não disse o mesmo, a frágil relação acabou separando novamente pai e filho, nem mesmo a relação com "deus pai" durou. Sai da igreja, sai da vida que estava a caminhar "e eu não deixo os meus passos no chão". Desde minha saída da igreja não encontro mais meu pai, fiquei sabendo das poucas informações que ele também havia saído. Nunca mais o vi, não sei se esta vivo ainda, sei que provavelmente saberia se não estivesse, mas tenho minhas dúvidas. As únicas palavras que me recordo e fico feliz de ter ouvido foi: eu perdi você e seu irmão, não quero que isso aconteça novamente. Fico feliz em ouvir isso, pois sei que minha irmã (que pouco conheci) não terá a mesma história que eu. Talvez o silêncio das minhas palavras pronunciadas não encobririam os gritos de meu coração e da minha mente, mesmo mudo as palavras se expressariam o que sinto e vejo, não sinto ódio, não sinto raiva, mas de vez em quando me sinto triste, mas acostumado com a história. Se um dia eu pudesse ver meu passado inteiro...





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