Um anjo recebeu uma simples missão que seria ajudar um povo sair da destruição. Uma destruição social causada por diversos humanos dominadores com poderes naturais, exercendo autoridade através de suas grandes quantidades de dinheiro e dominando os bens de capitais. Com isso, grande parte da população tinha um salário a nível de subsistência e, para alguns, nem para subsistir servia. O anjo então foi designado para esta missão, sempre agindo de modo indireto e invisível, sem se revelar a ninguém, e, como sempre precavido, ia ler os pergaminhos do destino para simplesmente resolver sua missão.
Enquanto ia a grande biblioteca celestial, encontrou um de seus irmãos e ambos conversaram por um bom tempo. Anjo não entendia o porquê dos humanos agirem de maneira insana e cometendo loucuras como a de escravizar seus companheiros de sangue, seu irmão tentou explicar dizendo que eles não tinham acesso aos pergaminhos do conhecimento e do destino e isso fazia com que o futuro deles dependessem apenas de previsões e em muitas delas sem sucesso, outro fator era de suas naturezas comuns que se inclinava tanto para o bem quanto para o mal. Em meio a conversa, o irmão desafio o anjo a cumprir sua missão de forma diferente, sem usar os pergaminhos, indo somente com seu próprio conhecimento, dizia ele que entenderia melhor o modo de como os humanos pensam e agem. O anjo se sentiu desafiado a solucionar sua missão sem ler os pergaminhos, pensou que estava preparado o suficiente para isto, pois estava milênios cumprindo missões desse tipo, assim partiu o anjo.
Chegando a Terra, enquanto se dirigia para o local devido, um antigo amigo anjo, agora caído, decidiu segui-lo para saber o que o anjo faria. Anjo, apesar de preocupado estava confiante e achava que em pouco tempo completaria sua tarefa. Ao chegar, para se precaver, anjo decidiu verificar a situação e durante alguns dias analisou a circunstâncias da sociedade e procurou estudos e livros sobre a história e a cultura do povo para que seu conhecimento resolvesse mais fácil a situação. De longe, demônio, o anjo caído, percebeu que anjo estava preocupando com a situação e que não estava tão obstinado em cumprir sua missão como sempre aconteceu, supos que anjo não fez como sempre e não estudou sobre a missão, por isso estava procurando informações sobre o local, contudo, como não tinha certeza decidiu apenas assistir. Após longos dias de estudos sobre as causas de dominação daquele povo, anjo descobriu diversas coisas sendo a principal e mais preocupante a exploração desenfreada causada pelo crescente aumento no consumo de bens e isso refletia na produção de mais e mais bens. Anjo observava aqueles poderosos gozando de grandes quantias, exagerados no consumo, sem ao menos dar um pouco de atenção aos trabalhadores que exaustivamente trabalhavam nas máquinas sem parar, trabalhando com fome, com sede, respirando um ar poluído durante vários dias, quase sem parar.
Por dias, anjo buscava uma forma de resolver o problema. Procurava colocar na mente de alguns poderosos a situação dos trabalhadores, mas estes quando conversavam com outros poderosos eram zombados e ridicularizados, diziam que não era culpa deles se nem ao menos deram sorte de nascer em uma família rica. Anjo via que seus esforços diante daqueles poderosos era vão, os poucos que agiam faziam muito pouco em relação ao que devia ser feito, tinham medo de perder suas riquezas e regalias temendo virar apenas um daqueles pobres operários que trabalhavam apenas para existir, nem ao menos para sobreviver. Anjo também investiu seus esforços no governo, mas aqueles homens escolhidos pelo povo eram apenas marionetes dos grandes poderosos, ao ponto que quase todo investimento na sociedade era de benefício apenas para a indústria e seus líderes e não daqueles homens que lutavam pelas suas vidas trabalhando intensamente. A cada dia que passava, anjo via seus esforços desperdiçados e começava a temer, pois imaginava que seria necessário derramar sangue para poder derrubar os poderosos e melhorar as condições de vida daquele povo, olhava para os lados e via várias pessoas, mas uma pessoa em particular chamou a atenção, um homem diferente daquele povo que detinha um conhecimento incomum, pouco ouvido, achavam que ele fosse louco, mas anjo sabia que pensava a frente de sua época, mas naquele momento ele seria morto por tantos absurdos que diria, mas se sacrificado poderia abrir a oportunidade de causar uma revolução que transformaria aquele povo, mas em contradição a isso anjo sabia que sangue fosse derramado desnecessariamente poderia ser julgado e até condenado para fora do reino celestial ou poderia voltar sem honra de ter vencido um desafio deixando aquele povo sofrer por muito mais tempo.
Anjo tinha que tomar uma decisão, possivelmente se juntar aos seus irmãos que caíram por uma péssima escolha ou continuar puro, mas se escolhesse continuar puro deixaria aquele povo sofrer por muito tempo sem ao menos darem a chance de uma mudança ou até mesmo da salvação. O medo tomara conta daquele anjo que não sabia bem o que fazer, não sabia o que escolher. Nem mesmo sua sabedoria divina facilitava sua escolha. Talvez fosse mais fácil ler o pergaminho do destino que contaria o fim dessa história, só que isso novamente tirava o direito de escolha e a surpresa que teria se ele tomasse a decisão, simplesmente faria o que estava escrito e isso impediria ele de entender como os humanos tomam as suas decisões medindo as possíveis consequências de seus atos sem saber ao menos se tomou a melhor decisão ou se suas reflexões seriam realmente o que aconteceriam. Nesse momento, o anjo percebeu que os humanos eram abstinentes de um conhecimento do futuro e entendia o porquê de alguns procurarem pessoas que dizia ter poderes sobrenaturais para falar sobre o futuro, normalmente enganadores que buscam ganhar naqueles que acreditavam em tais adivinhadores.
Preso em sua própria luta, anjo foi para longe da cidade e esperou o por sol. Sentou-se em um pedra olhando fixamente para uma cachoeira, nunca em sua existência havia desejado a escuridão, mas naquele momento de difícil decisão o desejava, se esforçava para isso, mas sua natureza de luz impedia, em plena noite escura via a cachoeira mais clara que o dia e as gotas que se espalhavam pela folhas refletiam um lindo brilho como uma pérola refletindo a luz. Sem perceber demônio se aproximou de anjo e sentou ao seu lado, anjo estava tão longe em seus pensamentos que não percebeu a presença de demônio e quando percebeu, apesar do pequeno susto que levou, não reagiu, pois sabia que se o demônio quisesse ataca-lo já o teria feito. Alguns segundos seguiram em pleno silêncio, anjo agia como se demônio não estivesse ali, longe em seus pensamentos e preocupações admirando aquela linda paisagem, após minutos de silêncio, demônio interrompeu aquele momento perguntando:
- Por que você não leu o pergaminho do destino?
Anjo não podia mentir, sua natureza não permitia, mas falar a verdade poderia complica-lo, pois sabia que demônio jogaria isso contra ele, revelaria a todos que o encontrasse, por essa razão, anjo decidiu usar de um direito universal, manter-se em silêncio. Mas demônio prosseguiu com o questionamento:
- Quer entender a escuridão? As trevas? Você sabe que a confusão, a dúvida e o medo são meras consequências da escuridão.
- Quer entender a escuridão? As trevas? Você sabe que a confusão, a dúvida e o medo são meras consequências da escuridão.
Anjo lembrava de um pergaminho que contia um texto estranho, difícil de compreender, mas naquele momento parecia começar fazer sentido, pois nunca vivenciou esse momento, naquelas linhas uma pergunta se fazia, "o que é que quanto maior fica menos se vê?". Enquanto olhava aquele brilho da água, as cores das flores e o som cachoeira lembrava da resposta a pergunta... "a escuridão". Anjo cabisbaixo ouvia aquele questionário sem responder, mesmo assim, demônio prosseguia com as perguntas:
- Por que não se preparou para essa missão? Queria entender esses meros mortais? Tão voláteis, sucessíveis ao erro e ao engano, achou que seria simples como sempre? Você sabe o que vai acontecer, não seja tolo, é necessário a revolução, é necessário o sangue e o sacrifício. Vai sacrificar aquele cidadão? Vai manda-lo para morte junto com uma grande multidão? Sabe que esse sangue escorrerá de suas mãos e o seu erro poderá te condenar para sempre, encontrarei você aqui comigo, me ajudando, como nos velhos tempos.
- Tudo que você quer é sangue, violência e destruição, mas sabe que a revolução se der certo esse povo ficará em paz, por que então não tenta me convencer do contrário? disse o anjo.
- Porque eles são humanos, em um momento ou outro isso voltará a acontecer, mas se você estiver errado em suas previsões o peso das mortes caíram em cima de você e se for conforme as regras, ações erradas podem levar sua expulsão e novamente trabalharemos para o mesmo lado. Humanos? Quem se importa com eles, o meu desejo e trazê-lo comigo. Respondeu o demônio.
Anjo olhou fixamente para o demônio, sabia que estava falando a verdade, mas apenas parte da verdade, pois demônio estava preocupado com a situação dos humanos, contudo sabia que se estivesse errado o seu destino final seria a expulsão. Enfim anjo se levantou e foi até algumas plantas e via gotas escorrendo das suas folhas, por um instante anjo teve a sensação das plantas estarem chorando por todo sangue que iria escorrer.
Demônio deixou anjo enquanto ele via as plantas, voltou a assistir de longe, anjo tinha sua decisão em mente, mas não queria acreditar nela, sacrificar um homem pelo povo, mas se houvesse uma revolução não seria só sangue deste homem, mas milhares que ouviriam suas palavras. Enfim anjo passou o dia pensando, lembrava de textos que lia, mas nada retirava a dúvida que tinha do futuro e o temor que tinha de tomar a decisão errada. Depois de dias de dúvidas, ele resolveu agir, tentaria a revolução mesmo que acontecesse o sacrifício de vários homens, só via essa solução, mas sabia que poderia ter outras, porém naquele momento só via aquela. Decidido, partiu para dar aquilo que faltava naquele homem para ser ouvido.
Ao chegar naquele homem, anjo o viu sentado em meio ao campo pensando, contemplando as estrelas, anjo sussurrou no ouvido daquele homem, um homem que por suas ideias mudaria o rumo daquele povo, as palavras dita pelo anjo em uma voz cheia de tristezas dizia:
- Espero que um dia você me perdoe pelo que fiz, pois as coisas que te dou são para ti maldição, mas para o seu povo benção.
Anjo sabia que nenhuma palavra dita podia ser ouvida pelo humano, mas aquele homem entrou em uma tristeza tão profunda em seus pensamentos, sabia que se um dia fosse ouvido suas palavras o conduziriam a morte, todavia, ao mesmo tempo que pensava isso olhava para o céu e lembrava das palavras de alguns homens que falavam sobre o universo, recordava do que era diante daquela imensidão. Em meio a um turbilhão de pensamentos, olhava para a lua e naquele noite a lua brilhava mais do que nas outras noites, o brilho era suficiente para enxergar o caminho, pensava que seria assim as suas palavras, seria igual a lua que refletiria a luz de grandes homens da história. Após aquele momento anjo colocou dentro dele carisma.
O tempo continuava sua caminhada e aquele homem seguia sua vida normalmente, mas curiosamente algumas pessoas começaram a ficar interessados no que dizia e aos poucos vários operários iam a procura daquele homem para ouvi-lo, não só no trabalho, e, sim na rua também ouviam. Aquele homem não entendia o porquê de todos quererem ouvi-lo do nada, sabia que aquele povo estava cansado de sofrer, no entanto não compreendia o motivo. Diversas vezes naquele mês estava conversando com uma pessoa e outras começaram a sentar ao redor para ouvi-lo. Suas palavras falavam muito sobre união, o poder dos trabalhadores e as forças de defesa dos poderosos. Aos poucos nem mesmo a devoção levava os homens a igreja, preferiam sentar em meio a praça para ouvir aquele homem. Anjo tinha aguçado a curiosidade de algumas pessoas para que ouvissem-no. E assim continuava por vários meses, todos os dias o povo queria ouvir as palavras daquele homem e o que era já esperado por todos é que os poderosos não gostavam das palavras daquele homem, não eram nem um pouco interessante e começaram a perceber que este homem mexia com o povo deixando-os mais agitados como nunca.
Enfim marcaram uma reunião em si e até mesmo com o governante para discutir toda aquela movimentação e, apesar de alguns homens (devido as tentativas do anjo) defenderem e proporem algumas mudanças, outros estavam indignados e pediram o fim dessa movimentação, o governante foi o encarregado disso. Para começar, governante mandou investigar e descobrir todo o seu perfil daquele possível líder e com a investigação descobriram que aquele homem era grande conhecedor da filosofia apesar de trabalhar como engenheiro mecânico renomado em sua área, diversas contribuições na área científica e amante da leitura, tinha hábitos simples mesmo tendo uma boa remuneração. Procuraram motivos para uma possível acusação, mas não encontraram nenhuma.
Passavam-se os dias e aquele homem ainda atônito pela grande comoção que causava, pensava que a união não serviria de muito se não houvesse a ação, contudo tinha medo da possível represália que poderia ter, mesmo assim, decidiu colocar em discussão em um de seus discursos. O povo estava tão cansado do seu trabalho rotineiro, sem expectativa de vida e vivendo quase a sobreviver que responderam-no que a morte poderia ser um alivio a suas vidas, no entanto que se fosse necessário morreriam tentando. A partir desde ponto, marcaram uma manifestação e uma paralisação geral, deixaram para o futuro para que todos pudessem ser avisados do movimento.
Contava-se os dias para que chegasse o dia da manifestação e o dia era chegado, depois de várias semanas de expectativas o povo se reuniu na pequena estrada que dava saída a cidade, milhares e milhares de homens reunidos, era tanta gente que se perdia a conta, em frente deles estava aquele homem, ele que se considerava um grande medroso estava a frente de uma grande multidão, juntos a eles estava anjo ao lado do líder que escolheram sem ser visto por ninguém. Começaram a caminhar lentamente até o centro da cidade onde se encontrava a praça da igreja e o prédio do governo, em meio a multidão ouvia-se uma música alegre com algumas pessoas até mesmo dançando em meio a gritos de protesto, um grupo de pessoas pediam a liberdade da tirania do relógio e do sincronismo das máquina, outros gritavam pela igualdade das riquezas, dos direitos e do tratamento principalmente do governo, alguns poucos pediam um coração fraterno para com os próximos. Anjo em frente a multidão estava atento ao seu redor, olhava para um lado e viam pessoas zombando dos manifestantes, até mesmo demônio esta lá rindo dele apontando o dedo, olhava para o outro lado e via as indústrias com poucas pessoas trabalhando enquanto demônio o supervisionava para que de lá não saíssem, olhava para frente e, longe até mesmo do olhar do homens, os guardas posicionados para interromper qualquer intromissão indevida. A grande caminhada continuava e encheu a praça, parecia um momento de pura alegria enquanto se tocava a música, dançavam e gritavam protestando, mas em um momento já esperado e repentino a música parou e a alegria imediatamente transformou-se em sons de destruição e depredação, os gritos de protesto transformaram-se em gritos de desespero e agonia, em todo lugar que se olhava viam pessoas sendo espancadas tanto operários quanto guardas e, em meio a grande confusão, as ordens claras que tinham sido dados aos guardas havia se cumprido, aquele homem havia sido capturado.
Dias se seguiam de manifestação e conflito, o governante e os poderosos fizeram as pressas uma reunião, todos queriam um método rápido e prático para dispersar aquela manifestação, não tinham respostas para tal propósito que não havia mais volta, tinham que fazer mudanças, mas eles não queriam, não perderiam os grandes privilégios que tinham, nem ao menos um pouco, até que em um momento sorrateiro e ingênuo um dos grandes poderosos decidiu fazer em praça pública o julgamento daquele homem insolente que tinha iniciado toda a manifestação, naquele momento sem respostas todos concordaram achando que isso traria temor a população, infelizmente não sabiam que fazia parte de um plano ingênuo de aterrorizar o povo, este poderoso guardou em segredo o que faria.
O tempo passou e fora organizado um tribunal em praça pública, guardas ao redor apontando suas armas ao povo, o povo pacientemente aguardava e assistia toda aquela pantomima, poucos poderosos corajosos assistindo o julgamento e o anjo do alto vendo toda a situação. Começava o julgamento, o juiz chamava diversas testemunhas que acusavam aquele homem de crimes desde os protestos até mesmo contra a religião, muitas acusações injustas contra ele cheias de mentiras, mas na lábia de pessoas que sabiam seduzir, encantavam poucos jurados que foram comprados para prender e torturar aquele que ousou desafiar os poderosos. Em meio a todo o julgamento, o povo estava impaciente, porém estavam cautelosos para não prejudicar o seu líder e aquele homem permanecia em pleno silêncio, nada saiu da sua boca, nem ao menos abria para respirar ou molhar os lábios, seus olhos observavam constantemente o chão, levantou o olhar somente quando o juiz mandou e ao vê-lo teve a sensação de ser um demônio julgando-o. No fim de toda aquela cena teatral o juiz solicitou que o réu ficasse de pé e dissesse alguma palavra em sua defesa, ele se levantou observou o redor e parando o olhar naqueles poderosos disse confiante:
- Vocês a quem me condenam tendes mais medo do que eu, o condenado.
Zombavam dele e ridicularizavam, achavam que seria somente mais uma das diversas manifestações vãs que passavam por aquela cidade. Aquele homem permaneceu de pé e enquanto lia-se a sentença viu entre os poderosos uma movimentação discreta e estranha, não conseguia discernir muito bem o que se passava, até que em um momento repentino, no tempo de um piscar de olhos, uma dor súbita passava em seu peito, uma dor profunda que começava impedir a respiração, ao olhar para baixo via uma seta atravessando-o e sangue escorrendo, procurou um possível acusado, mas não encontrou nada, via todos atônitos e preocupados, apenas um poderoso que ria discretamente entre os demais, mas nesse momento não poderia fazer mais nada, seus olhos embaçaram e suas forças começavam a deixa-lo, enquanto seu corpo inclinava para o chão lembrava daquela noite incomum, onde a luz que a lua refletia do sol era forte o suficiente para enxergar o caminho na escuridão. Foi assim que seus pensamentos e ideias o deixaram. A partir daquele momento, nenhum escrito da cidade tinha registrado tamanha violência, via-se sangue e destruição por toda parte que seguia por dias e mais dias. Em algumas indústrias tiveram registro da destruição que o povo causou e até mesmo um poderoso preso ter sido queimado junto com o seu poder, o governo todo foi destituído e decisões justas foram tomadas, alguns poderosos foram mantidos e eles deram melhores condições de trabalho, novos tratados foram feitos e aos poucos a cidade entrava em paz e conforto a todos que o buscavam, muitos morreram, muito sangue havia espalhado, mas os resultados começavam a aparecer.
Em meio a toda mudança e luta, anjo passeava pela cidade e ao caminhar onde aquele homem faleceu viu um lírio branco nascer naquele exato lugar. Em meio a flor havia um ponto vermelho e esse ponto era uma gota de sangue que manchava aquela planta, anjo se atentou em meio a toda loucura a ver aquela flor, não havia mais o que fazer, já estava tudo feito.
Meses se passaram e anjo na porta da cidade via o sol nascer, caminhou lentamente por toda a cidade e via grandes progressos, cessou os protestos e a cidade tomava um rumo maior do que o esperado, trabalhadores sendo tratados dignamente, trabalhos justos, salários que iam muito além da subsistência, governo que governava para o povo. Era um período de paz, a cidade e as pessoas mudaram bruscamente e anjo sabia que seu trabalho havia concretizado e, antes de voltar, decidiu ir a aquela cachoeira. Na cachoeira, anjo observava a queda d'água e ouvia o doce som das águas, anjo via em uma ponta de sua veste uma pequena gota de sangue e tomava destaque, suas mãos escorria sangue, mas não sujava sua roupa, sabia o que era, sabia o que significava. Após horas refletindo em frente a cachoeira, anjo decidiu retornar, levantou-se lentamente e ao olhar no topo da montanha perto da queda d'água viu demônio o observando, não disseram nada um ao outro, apenas se observavam, sabia anjo que no momento mais oportuno demônio o acusaria de seu ato, mas não se importava mais com isso, anjo se virou deu uma risada sutil e levantou voo, sabia anjo que assim como demônio dissera, o povo era inclinado a voltar ao período de escravidão, mas ele não tinha poder para impedi-lo, esperava apenas que um dia eles pudessem ler o pergaminho do destino para tomarem a melhor decisão, porém como sabia que eles não tinham esse acesso e que ficavam presos a dúvida e ao engano e que a escolha feita era o que achavam melhor. Bom, anjo sabia o que tinha pela frente, enfrentar as consequências de suas escolhas, contudo sabia que o destino e o futuro eram mais incertos que as poucas letras escritas em um pergaminho.
- Tudo que você quer é sangue, violência e destruição, mas sabe que a revolução se der certo esse povo ficará em paz, por que então não tenta me convencer do contrário? disse o anjo.
- Porque eles são humanos, em um momento ou outro isso voltará a acontecer, mas se você estiver errado em suas previsões o peso das mortes caíram em cima de você e se for conforme as regras, ações erradas podem levar sua expulsão e novamente trabalharemos para o mesmo lado. Humanos? Quem se importa com eles, o meu desejo e trazê-lo comigo. Respondeu o demônio.
Anjo olhou fixamente para o demônio, sabia que estava falando a verdade, mas apenas parte da verdade, pois demônio estava preocupado com a situação dos humanos, contudo sabia que se estivesse errado o seu destino final seria a expulsão. Enfim anjo se levantou e foi até algumas plantas e via gotas escorrendo das suas folhas, por um instante anjo teve a sensação das plantas estarem chorando por todo sangue que iria escorrer.
Demônio deixou anjo enquanto ele via as plantas, voltou a assistir de longe, anjo tinha sua decisão em mente, mas não queria acreditar nela, sacrificar um homem pelo povo, mas se houvesse uma revolução não seria só sangue deste homem, mas milhares que ouviriam suas palavras. Enfim anjo passou o dia pensando, lembrava de textos que lia, mas nada retirava a dúvida que tinha do futuro e o temor que tinha de tomar a decisão errada. Depois de dias de dúvidas, ele resolveu agir, tentaria a revolução mesmo que acontecesse o sacrifício de vários homens, só via essa solução, mas sabia que poderia ter outras, porém naquele momento só via aquela. Decidido, partiu para dar aquilo que faltava naquele homem para ser ouvido.
Ao chegar naquele homem, anjo o viu sentado em meio ao campo pensando, contemplando as estrelas, anjo sussurrou no ouvido daquele homem, um homem que por suas ideias mudaria o rumo daquele povo, as palavras dita pelo anjo em uma voz cheia de tristezas dizia:
- Espero que um dia você me perdoe pelo que fiz, pois as coisas que te dou são para ti maldição, mas para o seu povo benção.
Anjo sabia que nenhuma palavra dita podia ser ouvida pelo humano, mas aquele homem entrou em uma tristeza tão profunda em seus pensamentos, sabia que se um dia fosse ouvido suas palavras o conduziriam a morte, todavia, ao mesmo tempo que pensava isso olhava para o céu e lembrava das palavras de alguns homens que falavam sobre o universo, recordava do que era diante daquela imensidão. Em meio a um turbilhão de pensamentos, olhava para a lua e naquele noite a lua brilhava mais do que nas outras noites, o brilho era suficiente para enxergar o caminho, pensava que seria assim as suas palavras, seria igual a lua que refletiria a luz de grandes homens da história. Após aquele momento anjo colocou dentro dele carisma.
O tempo continuava sua caminhada e aquele homem seguia sua vida normalmente, mas curiosamente algumas pessoas começaram a ficar interessados no que dizia e aos poucos vários operários iam a procura daquele homem para ouvi-lo, não só no trabalho, e, sim na rua também ouviam. Aquele homem não entendia o porquê de todos quererem ouvi-lo do nada, sabia que aquele povo estava cansado de sofrer, no entanto não compreendia o motivo. Diversas vezes naquele mês estava conversando com uma pessoa e outras começaram a sentar ao redor para ouvi-lo. Suas palavras falavam muito sobre união, o poder dos trabalhadores e as forças de defesa dos poderosos. Aos poucos nem mesmo a devoção levava os homens a igreja, preferiam sentar em meio a praça para ouvir aquele homem. Anjo tinha aguçado a curiosidade de algumas pessoas para que ouvissem-no. E assim continuava por vários meses, todos os dias o povo queria ouvir as palavras daquele homem e o que era já esperado por todos é que os poderosos não gostavam das palavras daquele homem, não eram nem um pouco interessante e começaram a perceber que este homem mexia com o povo deixando-os mais agitados como nunca.
Enfim marcaram uma reunião em si e até mesmo com o governante para discutir toda aquela movimentação e, apesar de alguns homens (devido as tentativas do anjo) defenderem e proporem algumas mudanças, outros estavam indignados e pediram o fim dessa movimentação, o governante foi o encarregado disso. Para começar, governante mandou investigar e descobrir todo o seu perfil daquele possível líder e com a investigação descobriram que aquele homem era grande conhecedor da filosofia apesar de trabalhar como engenheiro mecânico renomado em sua área, diversas contribuições na área científica e amante da leitura, tinha hábitos simples mesmo tendo uma boa remuneração. Procuraram motivos para uma possível acusação, mas não encontraram nenhuma.
Passavam-se os dias e aquele homem ainda atônito pela grande comoção que causava, pensava que a união não serviria de muito se não houvesse a ação, contudo tinha medo da possível represália que poderia ter, mesmo assim, decidiu colocar em discussão em um de seus discursos. O povo estava tão cansado do seu trabalho rotineiro, sem expectativa de vida e vivendo quase a sobreviver que responderam-no que a morte poderia ser um alivio a suas vidas, no entanto que se fosse necessário morreriam tentando. A partir desde ponto, marcaram uma manifestação e uma paralisação geral, deixaram para o futuro para que todos pudessem ser avisados do movimento.
Contava-se os dias para que chegasse o dia da manifestação e o dia era chegado, depois de várias semanas de expectativas o povo se reuniu na pequena estrada que dava saída a cidade, milhares e milhares de homens reunidos, era tanta gente que se perdia a conta, em frente deles estava aquele homem, ele que se considerava um grande medroso estava a frente de uma grande multidão, juntos a eles estava anjo ao lado do líder que escolheram sem ser visto por ninguém. Começaram a caminhar lentamente até o centro da cidade onde se encontrava a praça da igreja e o prédio do governo, em meio a multidão ouvia-se uma música alegre com algumas pessoas até mesmo dançando em meio a gritos de protesto, um grupo de pessoas pediam a liberdade da tirania do relógio e do sincronismo das máquina, outros gritavam pela igualdade das riquezas, dos direitos e do tratamento principalmente do governo, alguns poucos pediam um coração fraterno para com os próximos. Anjo em frente a multidão estava atento ao seu redor, olhava para um lado e viam pessoas zombando dos manifestantes, até mesmo demônio esta lá rindo dele apontando o dedo, olhava para o outro lado e via as indústrias com poucas pessoas trabalhando enquanto demônio o supervisionava para que de lá não saíssem, olhava para frente e, longe até mesmo do olhar do homens, os guardas posicionados para interromper qualquer intromissão indevida. A grande caminhada continuava e encheu a praça, parecia um momento de pura alegria enquanto se tocava a música, dançavam e gritavam protestando, mas em um momento já esperado e repentino a música parou e a alegria imediatamente transformou-se em sons de destruição e depredação, os gritos de protesto transformaram-se em gritos de desespero e agonia, em todo lugar que se olhava viam pessoas sendo espancadas tanto operários quanto guardas e, em meio a grande confusão, as ordens claras que tinham sido dados aos guardas havia se cumprido, aquele homem havia sido capturado.
Dias se seguiam de manifestação e conflito, o governante e os poderosos fizeram as pressas uma reunião, todos queriam um método rápido e prático para dispersar aquela manifestação, não tinham respostas para tal propósito que não havia mais volta, tinham que fazer mudanças, mas eles não queriam, não perderiam os grandes privilégios que tinham, nem ao menos um pouco, até que em um momento sorrateiro e ingênuo um dos grandes poderosos decidiu fazer em praça pública o julgamento daquele homem insolente que tinha iniciado toda a manifestação, naquele momento sem respostas todos concordaram achando que isso traria temor a população, infelizmente não sabiam que fazia parte de um plano ingênuo de aterrorizar o povo, este poderoso guardou em segredo o que faria.
O tempo passou e fora organizado um tribunal em praça pública, guardas ao redor apontando suas armas ao povo, o povo pacientemente aguardava e assistia toda aquela pantomima, poucos poderosos corajosos assistindo o julgamento e o anjo do alto vendo toda a situação. Começava o julgamento, o juiz chamava diversas testemunhas que acusavam aquele homem de crimes desde os protestos até mesmo contra a religião, muitas acusações injustas contra ele cheias de mentiras, mas na lábia de pessoas que sabiam seduzir, encantavam poucos jurados que foram comprados para prender e torturar aquele que ousou desafiar os poderosos. Em meio a todo o julgamento, o povo estava impaciente, porém estavam cautelosos para não prejudicar o seu líder e aquele homem permanecia em pleno silêncio, nada saiu da sua boca, nem ao menos abria para respirar ou molhar os lábios, seus olhos observavam constantemente o chão, levantou o olhar somente quando o juiz mandou e ao vê-lo teve a sensação de ser um demônio julgando-o. No fim de toda aquela cena teatral o juiz solicitou que o réu ficasse de pé e dissesse alguma palavra em sua defesa, ele se levantou observou o redor e parando o olhar naqueles poderosos disse confiante:
- Vocês a quem me condenam tendes mais medo do que eu, o condenado.
Zombavam dele e ridicularizavam, achavam que seria somente mais uma das diversas manifestações vãs que passavam por aquela cidade. Aquele homem permaneceu de pé e enquanto lia-se a sentença viu entre os poderosos uma movimentação discreta e estranha, não conseguia discernir muito bem o que se passava, até que em um momento repentino, no tempo de um piscar de olhos, uma dor súbita passava em seu peito, uma dor profunda que começava impedir a respiração, ao olhar para baixo via uma seta atravessando-o e sangue escorrendo, procurou um possível acusado, mas não encontrou nada, via todos atônitos e preocupados, apenas um poderoso que ria discretamente entre os demais, mas nesse momento não poderia fazer mais nada, seus olhos embaçaram e suas forças começavam a deixa-lo, enquanto seu corpo inclinava para o chão lembrava daquela noite incomum, onde a luz que a lua refletia do sol era forte o suficiente para enxergar o caminho na escuridão. Foi assim que seus pensamentos e ideias o deixaram. A partir daquele momento, nenhum escrito da cidade tinha registrado tamanha violência, via-se sangue e destruição por toda parte que seguia por dias e mais dias. Em algumas indústrias tiveram registro da destruição que o povo causou e até mesmo um poderoso preso ter sido queimado junto com o seu poder, o governo todo foi destituído e decisões justas foram tomadas, alguns poderosos foram mantidos e eles deram melhores condições de trabalho, novos tratados foram feitos e aos poucos a cidade entrava em paz e conforto a todos que o buscavam, muitos morreram, muito sangue havia espalhado, mas os resultados começavam a aparecer.
Em meio a toda mudança e luta, anjo passeava pela cidade e ao caminhar onde aquele homem faleceu viu um lírio branco nascer naquele exato lugar. Em meio a flor havia um ponto vermelho e esse ponto era uma gota de sangue que manchava aquela planta, anjo se atentou em meio a toda loucura a ver aquela flor, não havia mais o que fazer, já estava tudo feito.
Meses se passaram e anjo na porta da cidade via o sol nascer, caminhou lentamente por toda a cidade e via grandes progressos, cessou os protestos e a cidade tomava um rumo maior do que o esperado, trabalhadores sendo tratados dignamente, trabalhos justos, salários que iam muito além da subsistência, governo que governava para o povo. Era um período de paz, a cidade e as pessoas mudaram bruscamente e anjo sabia que seu trabalho havia concretizado e, antes de voltar, decidiu ir a aquela cachoeira. Na cachoeira, anjo observava a queda d'água e ouvia o doce som das águas, anjo via em uma ponta de sua veste uma pequena gota de sangue e tomava destaque, suas mãos escorria sangue, mas não sujava sua roupa, sabia o que era, sabia o que significava. Após horas refletindo em frente a cachoeira, anjo decidiu retornar, levantou-se lentamente e ao olhar no topo da montanha perto da queda d'água viu demônio o observando, não disseram nada um ao outro, apenas se observavam, sabia anjo que no momento mais oportuno demônio o acusaria de seu ato, mas não se importava mais com isso, anjo se virou deu uma risada sutil e levantou voo, sabia anjo que assim como demônio dissera, o povo era inclinado a voltar ao período de escravidão, mas ele não tinha poder para impedi-lo, esperava apenas que um dia eles pudessem ler o pergaminho do destino para tomarem a melhor decisão, porém como sabia que eles não tinham esse acesso e que ficavam presos a dúvida e ao engano e que a escolha feita era o que achavam melhor. Bom, anjo sabia o que tinha pela frente, enfrentar as consequências de suas escolhas, contudo sabia que o destino e o futuro eram mais incertos que as poucas letras escritas em um pergaminho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário